FOLHA DE SP - 18/11
"América Latina resiste à crise, mas está ainda a anos-luz dos atolados países europeus
CÁDIZ
- Por mais que os países latino-americanos tenham se apresentado para a
22ª Cúpula Ibero-americana como os melhores alunos da classe, na
comparação com os dois parceiros ibéricos, Espanha e Portugal, enfiados
numa crise que parece não ter fim, o fato é que estão felizes, mas são
ainda muito pobrinhos.
Mesmo em recessão, "o nível de bem estar [na Europa em geral] é muito maior".
Não
só é maior como é mais justamente distribuído, até porque a América
Latina "é a região mais desigual do mundo", como fez questão de
ressaltar Alícia Bárcena, a secretária-executiva da Cepal (Comissão
Econômica para a América Latina, braço da ONU).
O que mais dói, para quem acompanha cúpulas internacionais há uns 30 anos, é ouvir uma frase como essa ano após ano.
Dói
mais ainda quando se somam duas informações: 1) O Brasil, apesar de ser
o país mais rico do subcontinente, é um dos mais desiguais; 2) A queda
da desigualdade, no Brasil, diminuiu nos últimos 10 anos apenas entre
salários, não entre o rendimento do capital e do trabalho, que é a mais
obscena.
Desigualdade não é o único capítulo em que a América Latina, conjunturalmente feliz, precisa progredir -e muito.
A
tributação, por exemplo, "é baixa para proporcionar serviços públicos
de qualidade, que atendam à demanda social", como diz Ángel Gurria,
secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico), o clubão dos países desenvolvidos, do qual o
Brasil só não é parte porque não quer.
Os impostos, na região,
pularam de 14% para 19% do Produto Interno Bruto, entre 1990 e 2010, em
grande medida pelo que ocorreu no Brasil. Ainda assim, é uma porcentagem
baixa, se comparada aos 34% da média da OCDE.
Mas, atenção, aqui o Brasil não entra na foto geral: tanto ele como a Argentina arrecadam basicamente os 34% dos países ricos.
Pulemos
para educação: 50% dos estudantes latino-americanos não alcançam os
níveis mínimos de compreensão de leitura, nos testes internacionais,
quando, no mundo rico, a porcentagem de fracassados é de 20%.
Passemos ao investimento em inovação e tecnologia: não supera nunca de 0,7% do PIB, quando na Coreia, por exemplo, é de 3%.
"Se
não corrigirmos o rumo, seremos todos empregados dos coreanos", fulmina
Gurria. Poderia ter acrescentado "ou dos chineses", que investem nessa
área vital tanto quanto os coreanos.
Mais um dado: a América
Latina está investindo 2% de seu PIB em infraestrutura, quando
precisaria de 5%, ano a ano, até 2020, pelas contas de Gurria.
Nem preciso acrescentar que infraestrutura não é exatamente o forte do Brasil, por mais que se lancem PACs, Copas e Olimpíadas.
Para
fechar: Alícia Bárcena lembra que a conexão de banda larga custa US$ 25
na América Latina, apenas US$ 5 na Europa e, na Coreia, US$ 0,05.
Moral da história: estamos rindo do quê?"
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