segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

CARNAVAL - Rafael Brasil


É uma festa bonita. Já dizia o finado Darcy Ribeiro, que, quando tivéssemos um povo forte, sadio e educado, não haveria festa melhor no mundo, principalmente pela exuberância da nossa natural multiculturalidade consubstanciada pela mistura das raças. O Brasil mestiço "descoberto" por Gilberto Freyre, e apontado como "povo novo" pelo próprio Darcy. Para ele, povo novo significava na construção de um povo mestiço através do processo histórico da globalização iniciada sobretudo por povos ibéricos, no nosso caso Portugal, a partir da expansão marítima da Europa Renascentista. 
Aliás, Portugal antes da descoberta já era um país relativamente mestiço, sobretudo pela dominação árabe-mulçumana na Península Ibérica que durou séculos. Também, tanto para proximidade com a África, como pela política expansionista da dinastia Avis, muito antes do achamento do Brasil, os portugueses já utilizavam extensamente a escravidão africana. Que já era praticada extensamente na própria África, pelos próprios povos africanos.
Com a miscigenação, inicialmente com as índias, que corriam voluptuosamente para os braços dos portugueses, e depois com as negras, dominadas pela escravidão branca, que se transformariam também em escravas sexuais, começariam a ser devidamente misturadas pela história. as culturas européia, índia e africana. Deu no que deu, nessa exuberante nação mestiça amada pelos dois mestres, talvez os dois maiores do que poderíamos chamar defensores da brasilidade. Nenhuma festa como o carnaval mostra tanto  este processo.
O problema é que o sonho de Darcy muitas vezes é obliterado pela violência, e também por movimentos que visam racializar o país, construindo um racismo às avessas, apontando para uma sociedade cada vez mais segregada, tal qual os Estados Unidos, por exemplo. Onde não existe basicamente mistura, as raças são segregadas, ou seja, cada uma na sua. Daí o histórico de conflitos raciais, onde o auge foi na luta pela igualdade dos direitos civis em meados da década de cinquenta do sangrento século XX. 
No entanto nossa violência não tem o caráter racial, mas advém sobretudo da nossa desorganização politica e administrativa, consubstanciada no processo de falência do estado, com a crescente banalização da corrupção no meio deste nefando processo. É um Brasil todo a reconstruir, pois a violência vem matando boa parte de nossos jovens. A luta por um Brasil democrático passa essencialmente pela luta contra a violência, que inclui lógico, uma batalha constante pela educação. Não só das escolas, mas de nosso povo, ou seja pela restruturação das famílias, que literalmente jogam a responsabilidade da educação exclusivamente para nossas péssimas escolas. Afinal educação de qualidade começa em casa. Porém todos os setores da sociedade, incluindo as igrejas, são responsáveis para esta longa jornada. Aí teríamos um carnaval dos sonhos dos velhos antropólogos e sociólogos como Gilberto Freyre e Darcy Ribeiro. Um Brasil sadio, não só fisica, mas mentalmente. Um Brasil mestiço e espiritualmente bem  mais saudável, com o império da lei e do respeito ao próximo. 

3 comentários:

  1. UM COMENTÁRIO BEM FEITO E BASTANTE ATUAL.LER ARTIGOS DESSA NATUREZA NOS ENRIQUECE CULTURAMENTE FALANDO.

    PARABÉNS!....MEU CARO NOBRE COLEGA DE PROFISSÃO.

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  2. Em meu “Dolce far niente” carnavalesco, ando meio doida procurando bons blogs para comentar. Paro aqui e vejo este excelente texto e não resisto, principalmente, porque “sou mulata na cor”, odeio o “parda”. Sim, mestiçona, com muita honra, e me pergunto: Quem é branco ou negro neste país? Nem a Xuxa nem o Pelé podem garantir isto, já que a Europa já estava miscigenada por séculos e também Minas Gerais.

    Hoje vi na minha ronda blogueira que uma ONG internacional quer adotar o sistema de cotas para o STF. Este pessoal não em limite. Quer avacalhar com os da minha cor mesmo, e até com a do Joaquim Barbosa. Então vamos ter cotas para o Congresso e haverá revezamento de presidentes negros e brancos. Então quando estiver tudo meio a meio (não meio a meio pois o Juruna deve também ter vez e é não sei se ele é pele-vermelha ou amarelo) o Brasil será um país igual. Já não bastava na universidade onde eu já não faço um curso superior com vergonha de ser confundida com um cotista?

    Somos um país incolor ou de todas as cores como o nosso carnaval. Me poupem!

    Lucinha Peixoto (Blog da Lucinha Peixoto)

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  3. A Lucinha disse tudo! Um arremate irretocável!
    Grande texto, professor! Sempre em ótima forma com as palavras!

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