terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O GOLPE DE 64 - RAFAEL BRASIL

Muito já se falou sobre o golpe de 64. 50 anos depois, a questão deve ser tratada com o saudável distanciamento do tempo e das emoções suscitadas.
De certa forma, a maioria dos políticos mais proeminentes eram essencialmente golpistas. Os da direita, conspirando desde sempre. E os da esquerda, desde a ideológica ligada a Moscou (do PCB), que tinha na democracia um mero valor instrumental, desde a mais radical que queria seguir os parâmetros da chamada revolução cubana, o que para Cuba, hoje o sabemos, foi uma verdadeira involução. De um país rico, mas desigual,  passou a uma certa “democratização” da pobreza. Com os conhecidos privilégios para a elite do partido comunista.
Brizola era um caudilho que sempre quis fazer um movimento de tipo peronista tupiniquim, o varguismo. Ainda bem que não colou, se bem que os milicos, à exceção de Castelo Branco, seriam mais nacionalistas do que Brizola e os nacionalistas da direita e da esquerda. Até uma organização da esquerda católica a conhecida AP (ação popular) tentava mesclar o cristianismo com o marxismo, tais quais os defensores da hoje combalida “teologia da libertação”. Ou da escravidão? Definitivamente os verdadeiros democratas eram minoria. À esquerda um Arraes, que defendia veementemente a legalidade constitucional. Uma verdadeira exceção. E liberais, como Juscelino, um dos maiores perdedores do golpe, Tancredo Neves, e inúmeros outros que depois lutariam com os instrumentos da democracia, bravamente, contra a ditadura.
O golpe foi uma precipitação das tropas de Mourão Filho. Com a inação de Jango, não teve resistência. Depois teve o apoio norte-americano, mas os gringos de nada participaram nem tampouco planejaram. Planos eles tinham, lógico, tal quais os soviéticos, em tempos de guerra fria. Mas o golpe foi executado pelos militares brasileiros, que, dentre outras coisas, ficaram assustados com a quebra da hierarquia promovida com a conhecida rebelião dos marinheiros comandada por Cabo Anselmo.
João Goulart foi um dos presidentes mais iletrados do país. Era na verdade um exímio criador de gado. Não dialogava com o congresso, e chegou à presidência com a renúncia de Jânio, que queria dar um golpe. Como na época a legislação permitia votar no presidente e no vice de partidos diferentes, ele chegou lá. Foi a tresloucada, preguiçosa e inoperante dupla “Jan Jan” Jânio e Jango. O país estava desgovernado, com um latente crescimento da inflação,  e o povo apoiou o golpe. Não só o povo, como inúmeros intelectuais.
Com Castelo, começou a ditadura. Não tanto uma ditadura, mas no dizer de Guillermo O’Donnel, uma “dita branda”. Ou “situação autoritária”. Os milicos mantiveram o parlamento aberto, mas com óbvias limitações constitucionais. Deportaram os principais líderes, mas mantiveram a imprensa com relativa liberdade.
Os milicos sempre planejaram entregar o poder aos civis, porém a gente pode até procurar saber como começa uma ditadura, difícil é prever seu término.  Também, positivistas, os militares se preocuparam em manter um regime de ditadura, digamos de rodízio. A cada período de quatro anos mudava-se o presidente, sendo o mesmo escolhido pelo exército. Os teóricos do “novo sistema” diziam não querer personalizar o regime, fugindo do figurino das caricaturais ditaduras latino-americanas. Decerto, a ditadura de 64, foi, digamos emergencial, diante do quadro político acirrado, sobretudo pelos ditames da guerra fria.
Como o congresso foi mantido, assim como as eleições legislativas, foi por esse caminho que trilharia a oposição democrática, ao contrário dos radicais, que queriam, por via das armas, dar um “salto para o socialismo”, como em Cuba. Também os comunistas atrelados a Moscou,(os do PCB) adotaram o caminho da redemocratização em aliança com os nacionalistas liberais, contrários ao imperialismo norte-americano.
Só que depois da morte de Castelo veio Costa e Silva, o crescimento do terrorismo de esquerda, e o AI-5, que foi um golpe dentro do golpe. Foi o período mais duro da ditadura, só abrandada por Geisel, que desmontou o aparato repressivo do regime, que já estava agindo à revelia governamental. O estopim foi o assassinato de Vladmir Herzog em 1975. Geisel demitiria logo para começar Ednardo D’Avila Melo, comandante da repressão no Estado de São Paulo.
Com Figueiredo veio a anistia, e depois a transição democrática via colégio eleitoral, um artifício da própria ditadura para se perpetuar no poder. Com exceção do então recém criado PT, a transição democrática se deu com os moderados da oposição juntos com os dissidentes do ancién regime, formando a frente democrática, que elegeria Tancredo presidente. Que, como sabemos, nem assumiu. 
20 anos de ditadura resultaria com cerca de 600 mortos. Cerca de 180 do lado dos civis inocentes, ou mesmo justiçados pelas organizações de esquerda, e cerca de 450 do lado das oposições. A maioria no período mais duro do regime, de 1968 a 1975, ano da morte de Vladmir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho.
Toda ditadura é essencialmente ruim. Mas na época, como sabemos, ninguém era inocente. A direita conspirava, mas também perderia, com a devida cassação de figuras como Jânio Quadros e Carlos Lacerda, ou mesmo o , digamos, mais democrata Juscelino. Que foi o que mais perdeu, pois certamente ganharia a eleição depois do desastre de Jango. Mas isso é outra história. 


Hoje, parte da esquerda autoritária quer posar de democrata. Mentira. A maioria era leninista, ou das várias correntes mais radicais, auto denominadas trotskistas. Muitos, como José Genoíno eram maoístas, seguidores do maior facínora da história humana. Hoje, estes comunistas do PC do B apoiam o regime da Coréia do Norte. E muitos ainda não perderam o ranço totalitário. E ainda tem gente que acha chique ser de esquerda. Só no Brasil e parte da sempre atrasada América Latina. Com algumas exceções, claro. 

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