domingo, 7 de dezembro de 2014

MIRIAM LEITÃO - "VENEZUELA EXPOSTA"

COLUNA NO GLOBO

O governo venezuelano de Nicolás Maduro controla a maior reserva de petróleo do planeta. Mas, inexplicavelmente, também possui um dos maiores déficits públicos do mundo. A queda da cotação do barril vai atingir em cheio as finanças do país, que tem na venda do óleo quase 50% de sua arrecadação. Com metade da dívida pública atrelada ao dólar, a Venezuela tem hoje 50% das reservas internacionais que detinha em 2008.
Conseguir números da economia venezuelana é sempre um desafio. O governo diz que teve superávit primário de 1% do PIB em 2013 mas os economistas têm outra conta. A do FMI chega a um rombo exorbitante de 11%. A série histórica do Fundo (veja no gráfico) mostra que as finanças do país saíram do azul em 7% do PIB em 2005 para esse enorme buraco no ano passado.
Em conversa com a coluna, o ex-ministro do Comércio e da Indústria da Venezuela Moisés Naím, que também foi diretor-executivo do Banco Mundial, prevê um cenário caótico com a redução do preço do petróleo. A venda do produto e seus tributos é responsável por 47% da arrecadação do governo, algo como 11,9% do PIB.
— O cenário é de caos para a Venezuela, que já não tinha os dólares suficientes para importar produtos do dia a dia quando o barril de petróleo estava a US$ 100. Imagine ele abaixo de US$ 70. O governo que foi incompetente para dirigir o país durante a abundância é o mesmo que o comandará durante a escassez — conta Naím, que atualmente dirige a fundação Carnegie Endowment para a Paz Mundial.
Na sexta-feira, o óleo venezuelano foi negociado na média de US$ 61,9 o barril. Há três meses, o preço era US$ 92,5. Para se ter uma ideia do tamanho da queda, a média do ano passado foi US$ 98. A situação agrava a qualidade da dívida do país, 51% dela em dólar. As reservas internacionais, que eram US$ 43 bi em 2008, terminaram junho em US$ 21,6 bi.
Com a água chegando à altura do nariz, Maduro afirma já ter cortado 20% dos gastos superficiais do governo, medida que parece ser insuficiente.
A deterioração fiscal somada à queda na cotação do petróleo já fez a consultoria inglesa Capital Economics questionar em relatório desta semana a capacidade de pagamento da dívida venezuelana.
Naím diz que o país hoje produz menos petróleo do que no final do século passado. Outros setores da economia foram sucateados e agora devem contribuir pouco para reverter o quadro. Cada vez mais a Venezuela se torna o exemplo econômico a não ser seguido na América Latina.
Reservas baixas travam comércio
A queda na cotação do petróleo que atinge a economia venezuelana pode prejudicar o Brasil. De janeiro a outubro, tivemos um superávit de US$ 2,8 bilhões com o vizinho. O risco é acontecer com eles o mesmo que já ocorre com a Argentina: restrição das importações por parte do governo, para que as reservas cambiais do país não fiquem ainda menores.
Carne concentrada
Há três meses o item que mais pesa na balança do IPCA é a carne. Em novembro, o aumento foi de 3,46%; no ano, a alta acumulada é de 17,8%. A explicação oficial vai da seca — que encarece a alimentação dos animais — à demanda maior da Rússia. Mas os distribuidores citam outro fator: a concentração do setor nos últimos anos, financiada pelo governo. Símbolo maior do processo, o JBS se valorizou 17,5% na bolsa nesses três meses. Na semana passada, comprou mais um concorrente.
QUEM MANDA? Surpreso com o repasse de R$ 30 bi ao BNDES nesta semana, o mercado começa estranhar a demora na indicação para a Secretaria do Tesouro.

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