domingo, 14 de dezembro de 2014

"Próximo e desconhecido", por Miriam Leitão - O Globo

O tamanho da incerteza sobre a economia brasileira em 2015 não cabe nas projeções. Reajuste de preços, queda na cotação das commodities, juros em alta, obrigação de aumentar o superávit primário e os problemas da Petrobras se embolam nos números dos especialistas para o PIB. As estimativas vão desde expansão de 0,7% a queda de 2%. A política terá papel fundamental nesse suspense.
Pelo relatório Focus, o crescimento do PIB em 2015 será de 0,73%. O Ibre/FGV divulgou estimativa de 0,6%. José Márcio Camargo, economista da PUC-Rio, fala em -1%. Com receio de se mostrar pessimista, a área econômica de um banco divulga projeção de 0,5%, mas trabalha com recuo próximo de 2%. Em comum, apenas o viés: todos acham que, se revisarem suas projeções, será para baixo.
Na projeção do Ibre, o investimento cai 7,1% este ano e 1,7% em 2015. José Márcio está preocupado com a situação da Petrobras, a companhia com o maior programa de investimentos do mundo (US$ 220 bi em cinco anos). A empresa está quase paralisada, causando insegurança em parte de seus fornecedores. Se a petrolífera cortar investimentos, Silvia Matos, do Ibre, admite que terá de rever sua projeção.
Para Silvia, a meta de superávit primário de 1,2% em 2015 é difícil de ser cumprida sem crescimento da economia. Nas contas do Ibre, o primário será de apenas 0,7%, e ainda assim com aumento da carga tributária. O peso da arrecadação no país já chegou a 36,4% do PIB em 2013. A média da América Latina é 20%. Quanto mais a carga cresce, mais difícil é o crescimento do país, que perde competitividade.
Samuel Pessoa, também do Ibre, lembra que, nos últimos três anos, a receita do governo tem crescido 2% e os gastos, 8%, em média. É aí que entra o Congresso. O contrato social — as obrigações dos contribuintes e do governo — precisa ser discutido.
— Vamos depender muito da política nesse ajuste, talvez só tanto quanto em 1998. O problema é que a presidente parece não gostar dessa negociação com o Congresso, que será necessária —, alerta Pessoa.
Nos últimos anos, o mercado sempre fez previsões altas para o PIB, que depois foram revistas para baixo. Para 2015, os números já estão próximas de zero. Há menos margem para erros.

Mais para 1998 do que 2003

Os economistas estão olhando para o passado para tentar encontrar alguma pista sobre o futuro. Samuel Pessoa acha a situação atual parecida com 1998, quando os emergentes estavam em crise, o dólar subia, elevando a inflação, e o país vinha de um déficit primário de 0,95%, em 1997. Segundo ele, a comparação com 2003 faz menos sentido porque a inflação subiu pela ameaça da eleição de Lula, que fez o dólar disparar. Agora, as causas são estruturais. Além disso, o superávit primário de 3,1% feito por Lula em seu primeiro ano aconteceu depois de um esforço de 2,9% feito por Fernando Henrique. Dilma, este ano, deixará para si um número que na melhor das hipóteses será próximo de zero.
Nas águas da Nicarágua

A CHN, empresa controlada pela Eletrobras e Queiroz Galvão, fará dois empreendimentos na Nicarágua, e não apenas um, como apresenta a atual administração da estatal. Além da hidrelétrica de Tumarín, de R$ 2,9 bilhões, a estatal também se comprometeu a construir a usina de Boboke, por R$ 650 milhões. A informação foi confirmada pelo governo da Nicarágua, sócio de 10% do empreendimento. A Eletrobras — que acumula prejuízos de R$ 15 bilhões desde 2012, após aceitar vender energia mais barata do que gasta para fornecê-la — acaba de reconhecer uma dívida de R$ 2 bilhões para salvar o caixa da Petrobras. Desde que a atual administração assumiu, em 2011, a maior empresa elétrica do país perdeu 76% do seu valor de mercado.
CONSUMO SEM FÔLEGO. Pelas contas da MB Associados, o varejo vai desacelerar de 4,3% para 2,1% este ano, e fechar 2015 com alta de apenas 1,3%.
OLHO LÁ FORA. A expectativa da semana é saber se o Fed vai tirar do seu comunicado a frase de que os juros vão ficar baixos por um período prolongado.
SEM LIQUIDEZ. Com o novo aporte de R$ 30 bilhões, a dívida do BNDES com o Tesouro foi a 8,6% do PIB, segundo Felipe Salto, da Tendências Consultoria

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