quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

J. R. GUZZO: Lulopetismo quer colocar “povo nas ruas ” apoiando a roubalheira. Quem se habilita?


(Foto: Wenderson Araujo/AFP)
A “GRANDE GERENTE” e Lula jamais estranharam a circulação, dentro e em volta da Petrobras, de personagens que habitam o mundo de sombras (Foto: Wenderson Araujo/AFP)
NA RUA, O PRÓ-FURTO
Artigo publicado em edição impressa de VEJA
J. R. GuzzoO ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores vivem no momento um desses dilemas que só eles são capazes de criar para si próprios.
Estão sendo cobrados com urgência, pelos cultos que se consideram mais à “esquerda” dentro do partido, para colocar “o povo na rua” — como sempre, a única ideia que conseguem ter, junto com sua torcida na internet, quando o governo fica nu diante dos fatos.
Para eles, essa seria a grande resposta, na falta de qualquer outra defesa coerente, para proteger o PT e seu “projeto” da surra cada vez mais alarmante que ambos vêm levando por causa da roubalheira incontrolável do petrolão.
E um perigo, porque o povão, como os aldeões ao redor do castelo do dr. Frankenstein, está inquieto: na pesquisa do Datafolha que acaba de sair do forno, a aprovação de Dilma caiu para a infame marca de 23%, a pior que jamais teve.
Que fazer?
Está na cara: segundo a estratégia do petismo descrito como “radical”, tudo será resolvido se os “movimentos populares” se lançarem desde já a manifestações em praça pública.
Com isso, vão assustar a “direita” que está inventando todas essas denúncias de corrupção, certamente com a intenção de derrubar o governo por meio de um golpe de Estado; aterrorizada pelas massas, a liderança “golpista” iria se calar, a Justiça soltaria todos os suspeitos que estão na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e a Petrobras, com um imenso suspiro de alívio, voltaria ao controle do povo brasileiro, para ser assaltada outra vez na paz do Senhor.
Mas será mesmo assim? E se não for? Eis aí o dilema.
O problema desse tipo de plano é com a vida real. Para botar os “movimentos populares” nas ruas, é preciso que haja populares nos movimentos — e se existe uma coisa difícil no Brasil de hoje é encontrar gente disposta a sair de casa, gritar “Viva Dilma!” e arriscar-se a apanhar da tropa de choque para defender a corrupção.
É simples. Quem, com um pouco de atividade cerebral, quer sair por aí em defesa de uma esquadra de delinquentes encarcerados sob a acusação de roubar o Erário?
Pois é disso, na prática, que se trata. Os heróis populares a ser defendidos pela mobilização das massas são, precisamente, esses peixes gordíssimos que estão no xadrez — não dá, no mundo das realidades, para ficar a favor do governo sem ficar a favor deles.
Então: quem quer ir para a frente do prédio da PF em Curitiba, com megafone, bandeira vermelha e cartazes, pedindo que sejam soltos diretores milionários de empreiteiras de obras, gente que até outro dia só andava de jatinho executivo, tem conta em banco suíço e confessa ter roubado milhões?
Quem se anima a enxergar uma vítima da direita no ex-gerente da Petrobras que se dispôs a devolver quase 100 milhões de dólares furtados da empresa?
Ele mais os antigos diretores e os empreiteiros presos fazem parte de algo chamado “clube do bilhão”. Como sustentar que sejam presos políticos?
É impossível dizer que altíssimos ex-diretores da Petrobras durante os doze anos dos governos de Lula e de Dilma, que hoje confessam crimes na tentativa de obter penas menores, fossem malfeitores ocasionais. Tinham a confiança integral das presidências da empresa e da República — se não a tivessem, como poderiam ocupar seus cargos?
As massas que a esquerda do PT e seus subúrbios querem jogar na rua terão de explicar, também, por que, durante esse tempo todo, o governo não percebeu nada de errado com criminosos confessos. Eles construíram fortunas pessoais; compraram apartamentos de cobertura, lanchas, pelo menos um avião. Montaram empresas off-shore — e por que raios um funcionário de empresa estatal teria de ter uma empresa off-shore?
É um mistério, também, por que nem Lula nem Dilma jamais estranharam a circulação, dentro e em volta da Petrobras, de personagens que habitam o mundo de sombras formado em notórias fronteiras do crime — doleiros, lobistas, despachantes que “viabilizam” negócios nos guichês da administração pública. É possível, claro, armar barulho na rua; sempre é. Mas o tumulto não resolverá nada para o governo. Ao fim, tudo o que conseguiriam de prático seria quebrar vidraças, machucar inocentes e tocar fogo em abrigos de ônibus.
Lula e Dilma montaram peça por peça esse desastre que está ai, ao privatizarem a Petrobras em proveito próprio — não podem, agora, chamar a “militância” para safar-se da confusão que arrumaram para si mesmos. Também não existe a opção de tratar isso tudo como um problema de imagem, que pode ser desfeito, segundo a presidente, com uma “batalha da comunicação”.
Aí não há marketing que resolva, e não adianta chamar João Santana para mostrar na televisão filmes com crianças que cantam “Dilma, coração valente”. Ele é um profissional eficaz para quem precisa ganhar eleição, mas é só isso que pode fazer. Não tem capacidade instalada para mudar decisões da Justiça, suprimir provas e tirar gente da cadeia — e só isso, no fundo, resolveria de fato o problema do petrolão para a Grande Gerente e o seu inventor. Não vai rolar.
Não vai rolar porque mudou, nos últimos tempos, uma escrita essencial na vida pública brasileira — o poder praticamente ilimitado das grandes empreiteiras de obras públicas, que sempre resolveram qualquer problema para si próprias e para os governantes amigos. Não podem mais, agora, ajudar Lula, Dilma e o PT, como ajudaram tantos outros poderosos do passado — e, se nem elas podem, imagine-se então os “movimentos sociais”.
Este pode ser, de certa maneira, o fato mais relevante de toda a tragédia do petrolão: pela primeira vez na história do Brasil, as grandes empreiteiras estão tendo de responder por crimes na Justiça penal, com diretores presos, confissões públicas e a possibilidade real de penas capazes de gelar o sangue de qualquer um. É um rompimento frontal com a tradição secular deste país, pela qual corruptores sempre viveram acima da lei e das cortes de Justiça.
Já houve todo tipo de corrupção no Brasil; nunca houve um empreiteiro preso. Historicamente, eles têm sido os empresários mais influentes do país — os grandes amigos do rei, que têm o poder mágico de criar milionários, eleger governos, comprar juízes e tudo o mais que se sabe.
Nos governos do PT parecem ter chegado ao ponto máximo de seu controle sobre a administração. Nenhum presidente foi tão amigo deles quanto Lula. Continua sendo. As empreiteiras estão entre os patrocinadores do Instituto Lula — ou seja, pagam as suas contas. Carregam o ex-presidente para ajudá-las a arrumar negócios com gangsteres que comandam ditaduras na África. Uma delas, a Andrade Gutierrez, investiu através da antiga Telemar algo como 10 milhões de reais numa empresa de games de seu filho “Lulinha”.
O drama desses colossos do capitalismo brasileiro foi terem dado de cara contra um muro de concreto armado — um juiz de direito do Paraná, Sergio Moro, que não se deixa corromper, não tem medo de gente que manda e teve o bom-senso de tornar pública a porção central de seu trabalho, cortando aí qualquer possibilidade realista de pressão política para enterrar as investigações do petrolão no arquivo morto.
A vida tem dessas coisas: de repente aparece um Moro, e o que sempre valeu passa a não valer mais. O PT e os advogados dos suspeitos até que tentaram demiti-lo, mas, com a calamidade exposta ao mundo, não ganharam nada; a essa altura nem o papa Francisco conseguiria tirar o homem de lá. O sistema de defesa do governo tenta uma desesperada carga de cavalaria contra ele; sua estratégia mais recente é dizer que Moro é a alma negra do tal golpe de Estado.
Que diferença pode fazer um disparate como esse? O problema do governo não se chama Sergio Moro; chama-se corrupção. Se não tivessem roubado, Moro estaria hoje despachando seus processos no anonimato de uma vara da Justiça Federal em Curitiba. Não haveria nenhuma necessidade, também, de chamar as massas para a rua.

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