MUNDO VÉIO SEM PULIÇA
Notas da coluna de Carlos Brickmann publicadas neste domingo em diversos jornais
Café da manhã com pão fresquinho, manteiga, jornal. Já foi uma beleza! Hoje, o pãozinho subiu de preço, a manteiga sem pão pode dar ideias perigosas às autoridades (com sal é pior!), o jornal não tem notícias que não sejam de crimes.
Na primeira página, o escândalo da Receita. Nas páginas de Política, a CPI do petrolão, a CPI dos SwissLeaks, o debate sobre recursos não-contabilizados ocultos nas contas do HSBC suíço. Nas páginas de Economia, empresas que demitem porque, acusadas no petrolão, não recebem o que lhes é devido (e, ao lado, reportagem sobre a quebra iminente de alguma grande construtora, com muitas demissões). Nas páginas de Investimentos, o enorme déficit do Postalis, o fundo de pensão dos Correios, que acaba de ser jogado nas costas dos segurados.
Discute-se a possibilidade de algo semelhante em outros fundos de estatais, e a possível escolha do presidente da Vale para a Presidência do Conselho da Petrobras – embora as duas empresas, uma privada, uma estatal, possam vir a ter interesses conflitantes.
Nos artigos, uma pergunta: qual desses é o maior escândalo de corrupção no Brasil, algo que nunca dantes nesse país tenha ocorrido?
Este colunista, que jamais apreciou notícias de crime, vai para o Esporte, para saber do Corinthians. Mas aí acha a empresa alemã que diz ter pago propina para obter contratos na Copa do Brasil. Na área de entretenimento, discute-se o aparelhamento do Ministério da Cultura pelo Fora do Eixo – aquele, do Pablo Capilé.
Há café da manhã que resista? Apesar de tudo, bom dia!
Por que este nome?
Intrigante o nome Zelotes dado pela Polícia Federal à operação na Receita.
Os zelotes eram um grupo de judeus cujo objetivo era “zelar pelas Leis de Deus”. Lideraram a rebelião judaica contra Roma entre os anos 66 e 70 depois de Cristo, por rejeitar um imperador pagão. Tito, filho do imperador Vespasiano, comandou as tropas romanas, que derrotaram os judeus, exilaram-nos, proibiram sua permanência na Judéia, destruíram o Segundo Templo de Jerusalém, arrasaram a cidade e mudaram seu nome para Aelia Capitolina. Um grupo de zelotes continuou a resistir na montanha fortificada de Massadá. Derrotados, os 960 sobreviventes preferiram o suicídio coletivo à rendição.
Essa é a história, como narrada em A Guerra Judaica por Flávio Josefo, duro crítico dos zelotes, a quem responsabilizava pela deflagração de uma guerra que não podiam ganhar.
E que é que isso tem a ver com a ação da Polícia Federal na Receita? Estarão os federais considerando-se os verdadeiros, únicos e rígidos zeladores da Lei?
Nenhum comentário:
Postar um comentário