sexta-feira, 25 de março de 2016

Tentativa de sabotagem - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 25/03

A divulgação, sem autorização judicial, de uma lista com centenas de nomes de políticos de diversos partidos que teriam recebido doações da empreiteira Odebrecht, é sinal de que algum grupo dentro da Polícia Federal está querendo misturar alhos com bugalhos, sabotando as investigações. A lista foi apreendida há um mês, e estava sendo analisada.

O vazamento só ajuda a quem quer melar a Operação Lava-Jato. A Polícia Federal divulgou a “lista da Odebrecht” sem o Juiz Sérgio Moro saber. Ele a colocou em sigilo, por que não havia ainda a definição do que era caixa 2 e o que era contribuição legal. E agora ainda há a dificuldade de distinguir as contribuições legais daquelas que, com ares de legalidade, na verdade proveem de propinas.

A tese dos petistas e seus aliados é que “todo mundo é ladrão”, e esse Congresso não tem legitimidade para aprovar o impeachment da presidente Dilma, pois está “todo mundo na lista da Odebrecht”. Se todo mundo é culpado, ninguém é culpado. A tentativa é chegar a um grande acordo: está todo mundo envolvido, então vamos limpar a pedra e começar tudo de novo.

É uma situação tão surreal quanto a de Lula dizer que a Operação Lava-Jato é responsável pelo desemprego no país. O maior desemprego já registrado no país nos últimos quatro anos foi anunciado por esses dias, e Lula o atribui à Lava-Jato, e tem a coragem de afirmar que o Juiz Sérgio Moro está desempregando as pessoas.

Recentemente Lula fez outro discurso inacreditável defendendo justamente as empreiteiras, que estão no centro desses escândalos de corrupção. Segundo ele, as empreiteiras têm que ser preservadas por que geram empregos. Mas geram também favores à cúpula petista, aos políticos corruptos de maneira geral, e ao próprio Lula, enrolado em diversas denúncias de “presentes” de empreiteiras, como o sítio de Atibaia e o triplex de Guarujá, e otras cositas más.

Numa distorção completa da realidade, quem está tentando limpar a política, quem está tentando coibir a corrupção empresarial no país, é acusado de ter causado o desemprego e a queda da economia. E quem está no governo há 14 anos, que comprovadamente roubou, que quebrou a Petrobras, que acabou com a economia do país utilizando-se de decisões econômicas completamente equivocadas, além de ter permeado a estrutura estatal de métodos corruptos na nomeação de dirigentes e no direcionamento de financiamentos para empresas amigas, levando o país à pior recessão já registrada em sua história republicana, esses são os coitadinhos, os perseguidos, os defensores dos pobres e dos oprimidos.

Uma versão tão fantasiosa quanto a que vende a falácia do golpe, quando estamos há dois anos nesse processo de investigação de um vasto sistema de corrupção organizado pelo governo petista. Todos os ritos constitucionais estão sendo cumpridos, conforme atesta o próprio Supremo Tribunal Federal, que supervisiona a atuação da Força Tarefa da Operação Lava-Jato e também aprovou o rito do impeachment, corrigindo o que considerou estar errado na decisão do Congresso.

Por outro lado, é muito estranho a empreiteira Odebrecht ter anunciado um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal que nem sequer está sendo negociado. O PT e seus blogs amestrados acusam a Lava-Jato de não aceitar um acordo com a Odebrecht por que a tal lista inclui políticos da oposição, que estariam sendo blindados pelo juiz Moro.

É evidente que há em gestação um conluio do PT com o governo para tentar melar a Lava-Jato, transformando o Juiz Moro, que agora mesmo foi eleito uma das 50 personalidades mais importantes do mundo pela revista Fortune, em vilão dessa história.

A estranha divulgação da “lista da Odebrecht” pode estar relacionada com uma inscrição encontrada no celular de Marcelo Odebrecht, conforme recorda o site O Antagonista. A inscrição era "Armadilha Bisol/contra-infos”, e se refere a um episódio ocorrido em 1993, quando o Congresso realizava uma CPI sobre empreiteiras.

A Polícia Federal apreendeu 18 caixas de documentos na casa de um diretor da Odebrecht que indicariam “a existência de um cartel das grandes empreiteiras para fraudar as licitações de obras públicas”, inclusive com a relação de políticos que receberiam propinas.

José Paulo Bisol, relator da CPI das Empreiteiras e candidato a vice-presidente na chapa de Lula em 1989, denunciou o fato com estardalhaço, mas na realidade a lista não indicava apenas propinas, mas brindes, como calendários e agendas, e até doações legais. Ao colocar no mesmo balaio, como agora pode estar acontecendo, inocentes e culpados, a CPI das Empreiteiras, desmoralizada, foi arquivada. E, como vemos hoje, o cartel das empreiteiras continuou a atuar.

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