quinta-feira, 17 de agosto de 2017

"Hitler não era de esquerda nem de direita: era a 'terceira via'", por Leandro Narloch


"Hitler não era de esquerda nem de direita: era a 'terceira via'", por Leandro Narloch

BBC
Hitler tomou decisões sob efeito de cocaína, diz autor de livro sobre drogas na Alemanha nazista
Adolf Hitler, ditador nazista, era a terceira via dos anos 1920, como os políticos que rejeitam rótulos


Folha de São Paulo
Não sei muito bem como, mas a maluquice de neonazistas em Charlottesville suscitou no Brasil a discussão se o nazismo é de esquerda ou direita. A polêmica é típica das torcidas organizadas que vivem brigando na internet, mas não deixa de ser interessante. Como saber qual o lugar de Hitler na política se ele era ao mesmo tempo anticomunista, antiliberal e anticonservador?

É verdade que algumas propostas do nazismo, principalmente do início do movimento, têm toda a cara da esquerda. A primeira plataforma do Partido Nazista, publicada em 1920, defendia reforma agrária, divisão dos lucros de indústrias pesadas, estatização de grandes lojas de departamento, proteção social na velhice e proibição do rentismo e do trabalho infantil.

Mas não, Hitler não era de esquerda. Tinha os comunistas como seus principais inimigos e, mais importante, não ligava para a igualdade, o principal valor da esquerda. Pelo contrário, a teoria dos nazistas se baseava na desigualdade —os mais fortes (para eles, os arianos) deveriam vencer e dominar povos inferiores.

Hitler tampouco era um conservador. Conservadores pregam a prudência na política, a ordem e a preservação das conquistas da sociedade. O melhor político, para um conservador, é aquele que inspira tédio —e Hitler inspirou muitas emoções, menos tédio. Estava muito mais para um jacobino, alguém disposto a cortar cabeças e arriscar tudo em nome de uma sociedade perfeita.

Seria Hitler um liberal? Nem de longe. A ascensão do fascismo na Europa também é conhecida por historiadores como "a segunda morte de Adam Smith". As ideias liberais, que contagiaram o mundo do fim do século 19 até a Primeira Guerra, não infectavam mais ninguém. À esquerda e à direita, o planejamento central foi a grande ideia que acometeu o mundo até a chegada do neoliberalismo, em 1970.

O fasci, feixe de varas que deu nome ao fascismo, representa a ideia de que "juntos somos mais fortes". Assim como o comunismo, o fascismo e o nazismo eram ideologias coletivistas. Rejeitavam a ideia de que o indivíduo é um fim em si mesmo (ou que "o indivíduo vale mais do que toda a Via Láctea", como dizia Nelson Rodrigues). O oposto do fascismo não é o comunismo, mas o individualismo.

A ambiente político do começo do século 20 se dividia entre democratas liberais e revolucionários anarquistas ou socialistas. O fascismo e seu correspondente alemão surgiram como uma novidade que transcendia ideologias tradicionais e reavivava a crença na política principalmente entre os jovens. Não eram comunistas nem liberais: admitiam o capitalismo, mas um capitalismo submetido aos interesses do Estado, do coletivo.

Os nazistas não eram nem de esquerda nem de direita: era a terceira via dos anos 1920. Os políticos que rejeitavam rótulos e pregavam "contra tudo isso que está aí".

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